há um mundo por dizer
que eu tentei escrever numa folha de papel.
essa folha eu deixo guardada,
no fim de um caderno qualquer
ao revés.
não, não aqui.
aqui eu só digo o quê
por ventura você possa ler
amor.
sábado, 15 de agosto de 2015
segunda-feira, 22 de junho de 2015
o que tinha de ser/ o que será
Como se fala de amor sem incorrer em lugares comuns, em exageros e despropósitos?
Tudo me parece desmesura. O céu azul de junho, que eu amo tanto, céu azul claro que faz o dia todo parecer de manhãzinha; a flor laranja que dá aqui pelas ruas do bairro, que enche meu olhos e me toma de repente com aquela cor desavergonhada; a luz do sol, no fim do dia, cobrido a rua, os portões e os telhados das casas; mas eu me sinto um estranho diante de um mundo gigantesco, que não é outro senão o meu.
Tu foste a terra estrangeira que me assaltou, que me encantou.
E o amor que eu carrego por você é a única certeza que habita esse meu peito carregado de dúvidas. Mas há um outra certeza que insiste em entrar, e com a qual eu ainda não sei lidar. Na verdade, ainda não tornou-se certeza: é que meu coração conhece os mil processos alquímicos para que não atinja a condensação necessária para tornar-se opaca, sólida, irresistível. Imperativa: a quase-certeza de que, seja com ou sem amor, acabou. De que meu desejo, meu amor, minha única força, enfim, nada podem agora.
Escrever essas palavras me dói. Me dói porque não me reconheço plenamente nelas, tudo que sinto é agora tão maior do que qualquer coisa que esteja sendo dita.
Eu sei de uma força que carrego em mim, mas sei também que o efêmero reivindica seu lugar. Não pretendo me opôr a essa força tão maior do que eu, e que não deixa de alimentar minha vontade, meu tesão, as coisas que me movem. Mas meu amor é forte, obstinado, meu amor vai me levar até o meu limite. E quando eu chegar lá, terei força para não importa o quê - para reinventar um mundo, a mim mesmo, ou para recolher os pedaços que a trajetória incandescente me fez deixar pelo caminho.
Se há alguma coisa gritando por vida em mim, é essa amor por ti e por todo um mundo que você me trouxe.
Tudo me parece desmesura. O céu azul de junho, que eu amo tanto, céu azul claro que faz o dia todo parecer de manhãzinha; a flor laranja que dá aqui pelas ruas do bairro, que enche meu olhos e me toma de repente com aquela cor desavergonhada; a luz do sol, no fim do dia, cobrido a rua, os portões e os telhados das casas; mas eu me sinto um estranho diante de um mundo gigantesco, que não é outro senão o meu.
Tu foste a terra estrangeira que me assaltou, que me encantou.
E o amor que eu carrego por você é a única certeza que habita esse meu peito carregado de dúvidas. Mas há um outra certeza que insiste em entrar, e com a qual eu ainda não sei lidar. Na verdade, ainda não tornou-se certeza: é que meu coração conhece os mil processos alquímicos para que não atinja a condensação necessária para tornar-se opaca, sólida, irresistível. Imperativa: a quase-certeza de que, seja com ou sem amor, acabou. De que meu desejo, meu amor, minha única força, enfim, nada podem agora.
Escrever essas palavras me dói. Me dói porque não me reconheço plenamente nelas, tudo que sinto é agora tão maior do que qualquer coisa que esteja sendo dita.
Eu sei de uma força que carrego em mim, mas sei também que o efêmero reivindica seu lugar. Não pretendo me opôr a essa força tão maior do que eu, e que não deixa de alimentar minha vontade, meu tesão, as coisas que me movem. Mas meu amor é forte, obstinado, meu amor vai me levar até o meu limite. E quando eu chegar lá, terei força para não importa o quê - para reinventar um mundo, a mim mesmo, ou para recolher os pedaços que a trajetória incandescente me fez deixar pelo caminho.
Se há alguma coisa gritando por vida em mim, é essa amor por ti e por todo um mundo que você me trouxe.
terça-feira, 3 de março de 2015
Há quem pregue a cura pelo esquecimento e pelo silêncio. A convicção mais profunda que carregam é aquela de que "o tempo cura todos os males", ou algo do gênero. Esse tempo, de que falam alguns, para mim é morte.
Para mim, o tempo não cura: o tempo agrava, o tempo sulca, o tempo aprofunda. Isso não quer dizer que o tempo vivifica o que já foi e não é mais, é algo de muito diverso disso. O tempo transforma aquilo que a memória guarda, talvez, por uma consciência de que aquilo já não é.
Que mania em falar do tempo tenho eu, que só tinha vindo até aqui para falar de silêncio...
Para mim, o tempo não cura: o tempo agrava, o tempo sulca, o tempo aprofunda. Isso não quer dizer que o tempo vivifica o que já foi e não é mais, é algo de muito diverso disso. O tempo transforma aquilo que a memória guarda, talvez, por uma consciência de que aquilo já não é.
Que mania em falar do tempo tenho eu, que só tinha vindo até aqui para falar de silêncio...
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
No que diz respeito àquilo em que eu gosto de perder tempo pensando, poderia dizer-se que me agrada um certo tom contemplativo, vago: poderíamos até dizer aéreo ou, forçando um pouco, metafísico.
Mas no que diz respeito ao que me arrebata pelo lado táctil, pelo lado epidérmico, pelo lado dos fluídos que me correm e preenchem o corpo, como poderia haver espaço para tais divagações?
Meu amor é táctil, meu amor tem cheiro de corpo, de suor: anseia pelo teu corpo, pelo teu suor. (Dá até vontade de escrever que nem o Bukowski, de quem eu nem gosto!)
Meu amor é primitivo, mas não por ser animalesco ou feito de puros imediatismos, e sim ser feito, também, de medo e de necessidade. Talvez infantil seja melhor palavra do que primitivo. Tanto faz.
Mas no que diz respeito ao que me arrebata pelo lado táctil, pelo lado epidérmico, pelo lado dos fluídos que me correm e preenchem o corpo, como poderia haver espaço para tais divagações?
Meu amor é táctil, meu amor tem cheiro de corpo, de suor: anseia pelo teu corpo, pelo teu suor. (Dá até vontade de escrever que nem o Bukowski, de quem eu nem gosto!)
Meu amor é primitivo, mas não por ser animalesco ou feito de puros imediatismos, e sim ser feito, também, de medo e de necessidade. Talvez infantil seja melhor palavra do que primitivo. Tanto faz.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Paisagem
A luz amarela que entra pela janela mal dissipa a típica escuridão de fim de tarde que domina meu quarto. Meu quarto e a sala ao lado. Essa luz provoca em mim alguma coisa que não sei bem se sou capaz de dizer - não é por outro motivo que vim escrever. Uma ansiedade, posso dizer, sabendo que com isso só encontro uma palavra que provisoriamente acalma minha busca por linguagem capaz de explicar o que sinto. Sento ao pé da cama e fico observando o fim de tarde pela janela do meu quarto - a chuva diminuiu, quase parou; o céu permanece tomado por densas nuvens de cinza plúmbeo, e em suas barrigas raios enormes correm, sem se lançarem em direção ao chão. São monstros gigantescos e sem rosto que pairam sobre a cidade. Há também algumas manchas de céu azul, mas só nos pontos mais distantes. A luz do fim de tarde, nessas circunstâncias, cobre tudo com tons úmidos e amarelados. É uma provocação, talvez: é quando consigo apreender na paisagem algo que normalmente não está lá. Minha suspeita do que seja essa coisa: um pouco de mim mesmo.
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
óbitos (exercício escrito)
I.
Há mortes que preparamos desde muito antes de um último suspiro, mortes que começam sem que sequer percebamos e das quais só tomamos consciência quando recebemos, indiferentes e até um pouco surpresos, a notícia do falecimento de quem há muito já havíamos esquecido. E enquanto não recebemos a notícia que antecipadamente já nos demos a nós mesmos a menção em conversas casuais acerca daquilo que disse ou fez um desses nossos mortos causa estranheza e, de acordo com o coveiro, algum remorso. Remorso este que não vem senão da simples constatação de uma decisão tomada tacitamente nalgum momento do passado e cujas implicações nem imagináramos ou, muito próximo disso, negligenciáramos de maneira mais ou menos deliberada. Não há ainda nisto - e nem poderia haver - uma sentença moral. Afinal, ao agirmos de tal maneira não fazemos outra coisa senão aplicar ao nosso coração e às nossas afeições uma regra que desde cedo aprendêramos: minimizar eventuais sofrimentos pela diminuição do tempo que nos separa deles. Muitas vezes, assim, o suicida opta por entornar o copo de veneno o quanto antes.
Há mortes que preparamos desde muito antes de um último suspiro, mortes que começam sem que sequer percebamos e das quais só tomamos consciência quando recebemos, indiferentes e até um pouco surpresos, a notícia do falecimento de quem há muito já havíamos esquecido. E enquanto não recebemos a notícia que antecipadamente já nos demos a nós mesmos a menção em conversas casuais acerca daquilo que disse ou fez um desses nossos mortos causa estranheza e, de acordo com o coveiro, algum remorso. Remorso este que não vem senão da simples constatação de uma decisão tomada tacitamente nalgum momento do passado e cujas implicações nem imagináramos ou, muito próximo disso, negligenciáramos de maneira mais ou menos deliberada. Não há ainda nisto - e nem poderia haver - uma sentença moral. Afinal, ao agirmos de tal maneira não fazemos outra coisa senão aplicar ao nosso coração e às nossas afeições uma regra que desde cedo aprendêramos: minimizar eventuais sofrimentos pela diminuição do tempo que nos separa deles. Muitas vezes, assim, o suicida opta por entornar o copo de veneno o quanto antes.
terça-feira, 11 de novembro de 2014
the darkest hour is just before dawn
No momento mais escuro da noite, no qual tudo aquilo que veio antes parece ser apenas um imenso breu imemorial recobrindo tudo, duas possibilidades - igualmente incertas - se nos oferecem: pensar na aurora que nossos olhos, transbordantes de água do mar e de expectação, acreditam já poder vislumbrar no horizonte ou, o mais difícil mas também o mais certeiro no meio da noite ventosa, lembrar do que viera antes do cairo do sol. Lembrar que a noite também tem sua memória, e o dia, seu esquecimento.
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