Uma noite, antes de adormecer, contei a mim mesmo uma história:
Nessa história eu crescia, aprendia a olhar pra tudo no mundo de um jeito novo, de um jeito grande, percebendo coisas que só podem ser percebidas por aqueles que sabem olhar. Crescer foi aguçar o olhar: as nuvens no céu, a luz que perpassa as folhas da bananeira, o ar gelado nas bochechas da gente, a grande beleza e inutilidade de tudo... Crescer foi me encantar e me desencantar, a um só tempo.
Nessa história de gente grande houve pouco espaço pra dúvida, houve pouco espaço pro medo - e talvez tenha sido por isso que houve pouco espaço para o amor.
Até que ele veio. Veio em parte porque eu quis, porque eu deixei. (Nisso ainda reside a afirmação: "sou grande!") Mas esse amor fez sua própria história dentro de minha pequena história noturna. As grandes belezas não eram (não podiam ser!) mais inúteis - muito menos esses os seus olhos de amêndoa e essa pintinha do seu rosto...
Mas o amor não é substância pura (ao menos para mim nunca fora, e nisso jamais soube crescer): é feito também de medo, ciume e outros ingredientes secretos. Talvez até mesmo um bocado de auto-depreciação. Nisso jamais soube crescer...
Por vezes penso ter sido inútil a silenciosa convicção da inutilidade das coisas, proferida tão serenamente por mim, quando fui grande, ou quase grande... Penso que sou ainda tão pequeno que a única resignação que me cabe é ao conflito: todo o resto deve ser obstinação.
Antes do fim dessa história adormeço. Com alguma saudade de uma pretensa maioridade (que ainda reluto em dizer foi passageira) e com medo - companheiro não só do amor, mas também de qualquer sono que se preze.
quarta-feira, 28 de maio de 2014
domingo, 18 de maio de 2014
Aurora anêmica
Meu amor vive no silêncio - é substância noturna.
Quando o silêncio deixa de encantar - quando o mistério se desfaz em cansaço,
tua voz pede por um Sol que sempre raiou com dificuldade da minha garganta incerta.
Luz fraca, essa minha, que não acalanta ninguém.
Quando o silêncio deixa de encantar - quando o mistério se desfaz em cansaço,
tua voz pede por um Sol que sempre raiou com dificuldade da minha garganta incerta.
Luz fraca, essa minha, que não acalanta ninguém.
Mantra da resignação infantil
Eu não sou o melhor nem o maior.
Não sou mais e nem posso querer ser menos.
Não sou mais e nem posso querer ser menos.
Assinar:
Postagens (Atom)