Dou ao passado o significado que posso, quando posso.
Se por um lado é de lá que vem a maior parte da nossa amargura, com seus momentos tão limpos, sob uma luz quase outonal, translúcida, fosca, perdida naquela matéria impalpável do tempo, é também de lá que vem quase tudo o que sou: o presente é por (quase) todos os lados desprovido de ontologia.*
Irônico ser o passado, talvez, mais dotado de transcendência do que o presente (e o futuro, oras, me pergunta aquele que crê no depois. sei lá eu do depois! se eu soubesse dele é porque ele não viria depois, já teria passado!)
A memória e a lembrança dão o peso, mas parece que também dão a luz de boa parte do presente. E prefiro uma vida carregada do que uma vida sem luz, um presente no breu.
*fica a observação de que eu não consigo acreditar nisso, por mais que por um lado acredite, e vejo uma metafísica absurda no presente.
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