O que será que se dá? Conheci o amor, a paixão, conheci até mesmo a devoção. Mas isso faz tempo e eu hoje sou outro. Hoje vivo e sinto como quem amou muito e como quem não espera mais nada, como quem não quer mais nada (quase como se, de um golpe só, tivesse vertido todo saboroso conteúdo daquela ânfora de sonhos; como quem, com o vento que vem do mar trazendo alguma lembrança querida, sente mais prazer no vento do que na lembrança - sei que aquilo foi, sei daquilo que vivi, e sei aquilo que não vive mais em mim, e gozo todos os prazeres dessa ausência).
O que será que se dá? Hoje rio com um riso amargo dos amores sinceros, me fecho para os sorrisos e olhares que resvalam nessa substância incerta que tenho dentro de mim. Meu olhar é meu maior sentimento, sentimento cheio de ternura por tudo quanto toco, tudo quanto posso, tudo quanto quero, tudo quanto vejo. Meu maior sentimento é um amor que não mais tem objeto próprio, e as vezes duvido até mesmo que seja eu o sujeito amante. É o sentimento que carrego comigo todo o tempo, é essa minha ternura a mais sincera e mais bonita, é o que me faz alegre, é o que me faz triste, faz de mim como sou - sozinho.
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