Há habilidades que temos, outras que não. Há faculdades de desenvolvemos, outras que parecem se situar num espaço que está além do alcance dos nossos braços, coração ou inteligência.
Imaginar o seu rosto chorando é uma das habilidades que não tenho - por mais que já tenha visto os teus olhos vermelhos e o teu rosto molhado com lágrimas que não vieram de outros olhos senão dos teus. A habilidade que não tenho, então, não é a da visão. Essa eu tenho, porque sei ter visto tudo o que disse. O que me escapa é essa tua imagem, que até hoje não pude fixar em minha memória. Me escapa teu rosto, tua voz - só percebo um medo obstinado que quando raramente recua é pra voltar logo depois, irritado e decidido como é, como se também não fosse capaz de me ver, de me ouvir.
Tua imagem não chega a mim, minha voz não chega a ti - como se memória e comunicação fizessem parte dessa zona que separa, obstinadamente como certos temores, duas pessoas que se querem tão juntas.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
as palavras, as memórias, não são mais do que filtros daquilo que se deu, daquilo que se dá - incapazes de dar conta do momento em que se expressam. preciso de mais do que de suas palavras: dos seus olhos, seus gestos, sua boca, e aí, sim, das suas palavras também.
ResponderExcluirsó quero que o sábado venha logo.