quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Sem título

Há habilidades que temos, outras que não. Há faculdades de desenvolvemos, outras que parecem se situar num espaço que está além do alcance dos nossos braços, coração ou inteligência.
Imaginar o seu rosto chorando é uma das habilidades que não tenho - por mais que já tenha visto os teus olhos vermelhos e o teu rosto molhado com lágrimas que não vieram de outros olhos senão dos teus. A habilidade que não tenho, então, não é a da visão. Essa eu tenho, porque sei ter visto tudo o que disse. O que me escapa é essa tua imagem, que até hoje não pude fixar em minha memória. Me escapa teu rosto, tua voz - só percebo um medo obstinado que quando raramente recua é pra voltar logo depois, irritado e decidido como é, como se também não fosse capaz de me ver, de me ouvir.
Tua imagem não chega a mim, minha voz não chega a ti - como se memória e comunicação fizessem parte dessa zona que separa, obstinadamente como certos temores, duas pessoas que se querem tão juntas.

Um comentário:

  1. as palavras, as memórias, não são mais do que filtros daquilo que se deu, daquilo que se dá - incapazes de dar conta do momento em que se expressam. preciso de mais do que de suas palavras: dos seus olhos, seus gestos, sua boca, e aí, sim, das suas palavras também.



    só quero que o sábado venha logo.

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