segunda-feira, 28 de junho de 2010

ímpar

é que na verdade, amor é meio assim, ímpar

- não rima com nada...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Dá-me um barco

(...) mal o sol acabou de nascer, o homem e a mulher foram pintar na proa do barco, de um lado e do outro, em letras brancas, o nome que ainda faltava dar à caravela. Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

instante em flôr.

o instante em toda sua compexidade, intangibilidade. forma completa. nada me falta, e se ele sempre acaba, fica de consolo o fato de que depois virão outros não menos coloridos, não menos sonorosos, nunca menos cheios ou completos.
nunca é igual.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Brilho eterno da lembrança

Dou ao passado o significado que posso, quando posso.
Se por um lado é de lá que vem a maior parte da nossa amargura, com seus momentos tão limpos, sob uma luz quase outonal, translúcida, fosca, perdida naquela matéria impalpável do tempo, é também de lá que vem quase tudo o que sou: o presente é por (quase) todos os lados desprovido de ontologia.*

Irônico ser o passado, talvez, mais dotado de transcendência do que o presente (e o futuro, oras, me pergunta aquele que crê no depois. sei lá eu do depois! se eu soubesse dele é porque ele não viria depois, já teria passado!)

A memória e a lembrança dão o peso, mas parece que também dão a luz de boa parte do presente. E prefiro uma vida carregada do que uma vida sem luz, um presente no breu.

*fica a observação de que eu não consigo acreditar nisso, por mais que por um lado acredite, e vejo uma metafísica absurda no presente.

Cenas de um casamento

Enquanto o noivo espera, não menos nervoso, a mãe chora, a dama de honra (tão pequena) se distraí com os arranjos de flores que tomaram conta da igreja, e o público impaciente coxixa. A noiva chega, e o silêncio junto dela. Música, altar.
O padre pergunta ("(...), aceita?"). Não consigo ouvir a resposta.

Fui expulso da casa de Deus por um rapaz que percebeu que eu não havia sido convidado para o sacramento.

Chove arroz lá fora também.

Epifania enlatada sem número

Como passar para o papel o que nem em pensamento é capaz de se condensar? Como colocar dentro de uma moldura todas as cores, em todas as texturas e formas diferentes que sou capaz e incapaz de conceber?
É esse gosto estranho de ver os olhares tão expressivos e fatigados de Tamara e seu namorado, sem nem ao menos saber se são, foram, ou serão de fato namorados; não conseguir imaginar o som de suas vozes; ou qualquer outra besteira sem cabimento como essas...
Esse tesão pelo impalpável, pelo invisível, pelo inviável, mas não inodoro ou ausente. Objetividade e realidade escapam à minha jurisdição: me importo com sensível, com o vivo (por mais estático ou fantástico que seja).

De que me importa o concreto e o palpável se nesse fluxo do devir é tudo tão movediço e translúcido?
-Não enxergo tão bem quanto sinto.

Poema (in)completo

Este poema, que tem
um começo,
um meio
e um fim,
não acaba por aí:

acaba por aqui.