quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Breve cosmogonia ontogenética

No início tudo era mar. À imagem e semelhança do mundo, grande ovo d'água, surgiu o primeiro e solitário coacervato, represando dentro de si uma pequena fração da imensidão líquida que o rodeava. O início de cada vida que já existiu e existe neste planeta jamais se livrou dessa condição fluida e fundamental: o óvulo fecundado carrega dentro de si, mutatis mutandis, uma parcela daquele imemorial mar primordial. Os dias passam, as células se reproduzem; os anos passam e cada um de nós carrega dentro de si um oceano insondável, cujos sons só conseguimos escutar em nossos sonhos e cujo balanço obedece à cadência ainda não decifrada de nossos corações.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

2001

Não, não me importo com nossa história - quero um amor sem as máculas de um passado e sem as sombras de um futuro. Nunca me julguei um presentista pseudo-apaixonado, idólatra de intensidades que expressam o que me parece certa incapacidade para perceber aquilo que se vive. Um amor que dobra-se sobre si, não em sua total extensão, se é que existe tal coisa; célula solitária que atravessa um universo deslumbrante e inapreensível - desconhece seu passado e não sente qualquer interesse pelo futuro.