quinta-feira, 22 de março de 2012

O que será

O que será que se dá? Conheci o amor, a paixão, conheci até mesmo a devoção. Mas isso faz tempo e eu hoje sou outro. Hoje vivo e sinto como quem amou muito e como quem não espera mais nada, como quem não quer mais nada (quase como se, de um golpe só, tivesse vertido todo saboroso conteúdo daquela ânfora de sonhos; como quem, com o vento que vem do mar trazendo alguma lembrança querida, sente mais prazer no vento do que na lembrança - sei que aquilo foi, sei daquilo que vivi, e sei aquilo que não vive mais em mim, e gozo todos os prazeres dessa ausência).
O que será que se dá? Hoje rio com um riso amargo dos amores sinceros, me fecho para os sorrisos e olhares que resvalam nessa substância incerta que tenho dentro de mim. Meu olhar é meu maior sentimento, sentimento cheio de ternura por tudo quanto toco, tudo quanto posso, tudo quanto quero, tudo quanto vejo. Meu maior sentimento é um amor que não mais tem objeto próprio, e as vezes duvido até mesmo que seja eu o sujeito amante. É o sentimento que carrego comigo todo o tempo, é essa minha ternura a mais sincera e mais bonita, é o que me faz alegre, é o que me faz triste, faz de mim como sou - sozinho.

quarta-feira, 21 de março de 2012

O que ia ser e foi diferente

Eu vim pra escrever o que eu pensei,
mas o que pensei virou ar e sumiu.
Sem saber bem o quê foi
vim e escrevi um vazio.

Mas se eu escrevi tá vazio?

segunda-feira, 5 de março de 2012

Viagem

o mês se fez fim, e do fim se fez volta.
viagens não duram para além da data de retorno. (tão logo o instante se faz passado ele não mais existe em nós, e só se faz acessível por uma experiência análoga, por uma constelação temporal cuja constituição pouco ou nada depende de nossa vontade).
pouco importa se aquele que parte e este que chega são os mesmos ou não: abandonar e retomar - desde que o homem se pretendeu digno do sobrenome sapiens a partida e o retorno são constantes para nos mostrar o que havia em nosso entorno durante os tempos anteriores à viagem.
eu fui, eu voltei.
conheci minhas vontades e encontrei minha quimera: a mesma que afugenta os homens desde os tempos imemoriais em que o movimento das ondas, os balanço das árvores ao vento e o passar das nuvens imprimiram em nós o gosto pelo passageiro - o tédio.