quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

como - não - funciona

- par ou ímpar?
- ímpar.
- par.

um raciocínio binário não passa disso. "deu ímpar, êba, ganhei!". um raciocínio binário não passa disso.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

you need some daylight, you need some sunshine

o sonho de um momento melhor precisa de um começo que precisa de uma fronteira que o homem não conseguiu jamais forjar.
espero por fevereiro, espero pelo inverno, espero pela cidade das luzes.
espero por um tempo presente que esqueça qualquer tempo passado. espero demais e disso eu sei.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Da alegria que vive em ti

Da alegria que vive em ti não espero mais do que aquilo que você espera: que te dê as emoções intensas de que você tanto fala... Da alegria que vive em ti não espero mais do que aquilo que você espera: que te deixe em paz com o que foi e que você passe teu tempo livre do que fôr.
Mas da alegria que vive em ti, por vezes eu espero mais do que eu poderia me permitir. Espero que contigo assim, cheirando a novidades, noites bem aproveitadas, alegrias bem vividas, risos colocados pra fora, você me deixe em paz.
Dos que viram o que há em mim, você viu o bastante para saber que pouco do que entende você por felicidade, amor, alegria, paixão, entendo eu. Eu não espero nada de ti, exceção feita a algumas palavras sinceras trocadas sobre copos de cerveja. Da alegria que vive em ti, eu espero que ela não me peça nada. Porque eu tenho, para além daquelas palavras e daquelas cervejas, pouco, muito pouco, para dar para essa tua alegria.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Prazeres

O critério de escolha para a apresentação destes pequenos deleites que fazem da vida algo mais apreciável será bastante aleatório. A escolha deste primeiro, por exemplo, foi feita pelo simples fato de que foi o último que eu experimentei. Não será difícil, acredito eu, que alguns desses pequenos prazeres se sobreponham, digamos assim, afinal de contas não raro um prazer vem acompanhado por outros... Assim, não é difícil encontrarmos pares de prazeres que já se tornaram como um só, cristalizados como ações indissociáveis... Ouvir-cantar, beber-cheirar, e por aí vai; mais raro é encontrar juntos prazeres que justamente nos pareceriam, juntos, de gosto duvidoso, e que fazem deles tão próprios de seu admirador, tão únicos, tão apreciáveis. Talvez eu tenha a oportunidade de escrever aqui algum ou alguns deles, desde que isso se passe pela minha cabeça, e desde que, se passe pela minha cabeça, passe pelo meu pudor.

...

Depois da refeição às vezes acontece disso. O vinho ajuda, mas hoje não tinhamos vinho em nossa mesa, só o prato com o que sobrara do nhoque já frio, um garrafa de dois litros de coca-cola, pela metade, e a salada. Nunca é diferente e o começo é sempre o mesmo: ?. Se as condições forem favoráveis (nunca sabemos ao certo quais são essas condições: um tempo seco ou chuvoso? ameno ou frio? será calor? levantar "com o pé direito"? seja como fôr, o vinho sempre ajuda...) a história começa. Não é fácil para mim entender onde exatamente se encontra o centro-nervoso dessa cena de prazer, isto é, o quê exatamente nela me agrada tanto. Tenho minhas suspeitas, e só. Tenho certeza, por exemplo, de que o centro dessa cena não pode ser alguém cuja vida eu já possa me dar ao luxo (absurdo, é desnecessário dizer) de dizer que "sim, conheço, muito bem, obrigado", como seria com minha mãe ou com minha irmã. Hoje foi com minha avó, outras vezes, com meu pai (minha família paterna mantém em torno de si certa atmosfera que não mais envolve minha família materna).
Quando essas histórias de tempos inexistentes são contadas para mim, falando de pessoas que nunca existiram e de acontecimentos de que jamais tiveram, em minha existência, data ou hora, revelando um pedaço de vida que tanto me fascina, meus olhos são tomados por alguma coisa brilhante. E é como se, por detrás daquela palavras que minh'avó nos contava à mesa, houvessem muitas outras subentendidas e escondidas, que ela preferia disfarçar com aquele sorriso dissimulado que todos poderiam pensar ser de saudade ou de empatia para com tempos idos, mas que, a mim não engana, são de quem cobre um pedaço, divertido e sujo, do passado.
O prazer tão grande que encontro nesses momentos é o de não estar só, e de ter a impressão de que é possível não ser todo o tempo um ser-sozinho. É como se nós fôssemos, ouvintes daquela história, capazes de entrever naquelas palavras um pouco do ser de outra pessoa, do narrador.
Os nomes das amigas, das mães das amigas, dos maridos, dos amantes, as cores dos olhos, os portes físicos, as ruas da cidade, os tempos da guerra, e um mundo que eu só entrevejo naquele sorriso.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

O coração das trevas

Nós vivemos assim como sonhamos - sozinhos...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

sem açúcar.

São em dias como hoje, são em dias como antes
que quero ser triste como quero ser feliz.
Quero desesperadamente ser e estar
mas quero nunca me encontrar inerte
com o sol cruzando o céu vezes e vezes
e meus olhos fitando a parede
dias e dias.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Na encruzilhada

O senhor sabe o que o silêncio é?
É a gente mesmo, demais

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Tempo, Jano, Deus

Em um instante foi como se o mistério de todas as crenças tivessem sorrido pra mim e eu, perplexo diante de uma simplicidade tão inesperada, fosse incapaz de entender; nada mais típico do que construí como isso que chamo Eu: quando meu fim me sorri eu me assusto e fecho os olhos.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

si tu vois ma mère

O mundo me vem, o mundo me vai, num balanço leve, lento, largo...
O vento sopra e eu esqueço do que sonhava;
Eu fecho os olhos e abro o peito...

Só de olhos fechados?

(Ai meu Deus, quantas interrogações eu me faço!)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

memento, momento

Uma borboleta passou por mim, como passam as borboletas, com aquele jeito errado de voar, de quem não sabe bem para onde vai. Eu a olhava esperando que ela pousasse em mim (dizem uns que é bom sinal, boa sorte, coisa dessas da vida que a gente ouve muito mas que nunca houve muita) e ela passou reto por mim. E eu fiquei como ficam as borboletas, errado, sem saber direito pra onde ir.

Uma borboleta passou por mim e eu não esperei nada.
(É só assim que se é feliz?)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

coup d'oeil

Um breve olhar lançado sobre as inúmeras manifestações que ocorrem no ocidente apontam para rumos que não são, nem de longe, o de uma reorganização profunda, em torno de novos centros, que seja capaz de romper com aquilo que se consolidou ao longo de séculos. O que se reclama é o reposicionamento de categorias que nem mesmo são questionadas, em relação a centros organizadores que pouco entram em questão. A capacidade de percepção da profundidade do problema se esgota quando a possibilidade de mudança é vislumbrada num horizonte muito distante. Hoje, mais do que no XIX ou em boa parte do XX, temos medo da mudança; o exercício da crítica se confunde com o da opinião, a produção (e quiçá mais importante do que isso, a reprodução) da imagem da postura engajada sobrepõe-se ao modelo.

Há um lado digno e atenção no meio da pobreza; mas me falta o tempo agora.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

dada

post sem muito ____, steve jobs morto; meu medo passou por causa da amilase. dizem que tudo bem, eu compro, manifestação extrapessoal da individualidade virtual; ãh.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

"Parce que c'était lui, parce que c'était moi"

Quando o amplo e incompreensível é o que explica não há outra expressão se não aquela de uma boca entre aberta e de um olhar atento, como o de quem espera (por qualquer coisa que não virá);
O homem convicto é burro, desconhece um mundo que se lhe oferece. O homem que duvida de suas convicções é pior; ignora, como que voluntariamente, todo o mais.

Para o diabo com tudo; o cego perdido no labirinto contempla a parede que o retém.

(Este escrito é válido até 2 da manhã de 24 de setembro de 2011; talvez menos, jamais mais)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Viagem

A paisagem seca, tingida de sol e de quaresmeiras em flôr.
O sertão em fogo, a serra queimando, a aula de violoncelo.
A lua lá no alto e eu viajando.

sábado, 3 de setembro de 2011

Fim e despedida.

Não há falha na ideia de fim, ela carrega em si muito mais do que um ponto final; mas há agonia e uma necessidade-de-vontade muito maiores do que eu-mesmo na ideia de despedida. Detesto a despedida e qualquer forma de prolongamento de um fim já dado. O resto é palavra-interdita: é esboço covarde de ausência.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

mais alma e menos tristeza

Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias
Podem passar os meses e os anos nunca lhe faltará
transe

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Observação

O título diz mais do que eu gostaria. Há alguma coisa acontecendo, mas nem os braços ou as pernas tomam parte do caos em que se encontram. Deliberadamente, talvez, afinal o caos é o subproduto irremediável dessa ordem (invertida) que se forjou.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Lua lá no alto.

Quando a lua está brilhando, o aleijado anseia por um passeio a pé.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

roda-mundo

na líbia, kadafi responsabiliza a otan pela morte de dezenas de civis; algumas das dezenas aí contadas eram crianças. duas facções lutam por legitimidade e capacidade de poder coercitivo. pretensamente esquecem (afinal, bem sabem disso) que não há poder coercitivo legítimo.
em londres a morte de um inocente coloca fogo na cidade, que ao invés de expor diretamente para o mundo o jogo de forças há tempos atuante, prefere rodopiar em egoísmos, furtos, e cada-um-por-si; prefere encenar um teatro patrocinado pela mídia de todo o mundo; teatro cuja catástase consiste no restabelecimento da ordem pelas mãos daqueles que conhecem a justiça.
no butantã, um garoto desconfiado de seus próprios rumos bebe um pouco a mais, deixa-se levar por suas tendências críticas e escreve baboseiras.

lá em cima a noite no mundo, hoje, é enorme.

exercício irônico

a ironia é tentar isso, agora. a ironia é sentir medo, agora. o imperdoável é não ter certeza, agora. os tempos que se seguem ao de uma mudança brusca carregam, com a clarividência que eu não tinha, a linha mestra, a chave, a lembrança-síntese daquilo que fica pra trás. e esse presente que me é entregue tem o peso do medo e da insegurança. hoje eu troco a primeira-do-plural pela primeira-do-singular porque tenho medo e sinto como se não houvesse Humanidade no que digo.

a ironia é que quando tomo a coragem necessária para saltar sobre meus desejos vacilantes e incertos que me devoravam só vejo escuro.

domingo, 7 de agosto de 2011

sabática

alguma coisa acontece no meu coração

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Taí!

meu amor, não posso esquecer: se da alegria faz também sofrer, a minha vida foi sempre assim... só chorando as mágoas que não têm fim... essa história de gostar de alguém é mania que as pessoas têm! se me ajudasse nosso Senhor, eu não pensaria mais no amor...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

o vento, o céu e eu

Ontem o vento batera tão forte que ninguém mais sabia de si: o carteiro entregava cartas numa língua que não entendia; o bêbado do bar, tomando laranjada, bendizia a vida e erguia as mãos ao céu; nem esse sabia direito o que fazer. Hoje era todo sem-saber-de-si, sol-chuva, uma luminosidade forte, mas sem alegria nenhuma. É que quando o vento sopra o céu fica que nem eu, com os pensamentos longe, numa terra que não é a de agora.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

impressão; meditação

Foi quando ergui os olhos e olhei através da janela; fui de súbito invadido por um céu branco que me cobriu os olhos, me encheu de suto, quase medo; fui, sem mais nem menos, tomado por uma sensação de supressão de tudo que pensei haver dentro de mim e tudo o que senti foi aquele céu, aquele branco, todo vazio, todo impalpável. A claridade ofuscante do desconhecido rompeu pra dentro de mim, numa dessas inteligentes piadas que só o instante pode fazer, zombando de toda a sabedoria do homem. E foi quase como reação desesperada que me coloquei a pensar, num súbito, o que diabos era aquilo que se passava diante de meus olhos, dentro de mim. Não tinha mais certeza se estava de olhos abertos, de olhos fechados. Aí veio o vento.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

tentativa de verso n. 1

colocam-se face a face
as tormentas e as rosas
as angústias e os suspiros
e tudo o que conseguimos ver
é nosso próprio rosto
a encarar-se fixamente
através de um espelho.

sem título

desforme, lânguido, solto, provocativo, todo vontade-própria, sempre egoísta, amor e desejo, de um lado pro outro, entre o místico e o estapafúrdio.

domingo, 17 de julho de 2011

Domingo, 17 de julho de 2011

Assim, é idiota buscar reviver pelas lembranças as alegrias de outrora, a experiência da vaga que passou; Teu passado oferece a mesma solitária imagem sua; A herança do teu tempo vivido é seu próprio herdeiro testamentário: tua própria existência.

Tudo sôbre mim / tudo atrás de mim

Quando me deito e me encontro buscando alguns daqueles momentos, alguns daqueles dias do passado, revisitando a casa de uma avó, o antigo colégio, a casa de um amigo, uma praça, enfim, fossem qual fossem, signifiquem o que fôr ou que foi, tenho a viva sensação de que trago eles diante de meus olhos e vejo neles, se estes olhos estão bem fechados e me empenho nessa busca tão ingênua, um fôlego de vida naquilo tudo; "ingênuo enleio", diria aquele outro poeta do recife; todo aquele passado que trago pro instante vivo do agora é morto e não encontro nada daquele tempo, só: eu mesmo; a grandeza da herença do passado morto, o legado sem-preço do tempo arrastado para o presente, é a solidão de só mostrar uma coisa: a si mesmo.
Assim, quando ouço aqueles acordes de sol maior separados por um intervalo lento e penso no vapor do café, na garôa, no começo de alguma história qualquer, percebo muito menos aquele momento, aquele instante, do que a minha prórpia pessoa, a minha própria substância, a minha própria imagem de mim-mesmo atravessando os anos pra pousar sob essas pálpebras fechadas que buscam tanto aquilo-que-foi.

sábado, 9 de julho de 2011

pontualíssima

tudo é desejo, nada é ação.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

lição sem número nem sentido

a gente aprende a engolir nossas angústias e nossos medos soltando vogais abertas e sons guturais.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um Pessoa em toda gente.

Desenganemo-nos da esperança, porque trai, do amor, porque
cansa, da vida, porque farta, e não sacia, e até da morte, porque traz mais
do que se quer e menos do que se espera. Desenganemo-nos, ó Velada, do
nosso próprio tédio porque se envelhece de si próprio e não ousa ser toda a
angústia que é.

sábado, 18 de junho de 2011

Passa passarim!

Cadê meu amor, minha canção?
Cadê minha voz, pra dizer que tudo sumiu?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

caminhar vazio

quando meu mundo era mais mundo?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Caravaggio e o relógio

Era toda vez a mesma história: quando a luz acabava, a casa quase ruia com os ais chorosos que meus pais e minha irmã soltavam, junto de meia dúzia de xingamentos. E aquele dia não foi nem um pouco diferente. Seja como for, a luz sempre voltava durante a janta: era só sentarmos na mesa, alguém falar "me serve de batata, por favor" que a luz voltava. E quando a luz ascendia, eu ficava meio chateado. O melhor da casa aparecia quando a luz acabava, era uma casa toda silêncio sem imagem. E não há pessoa que desconheça o fascínio que o fogo provoca nas pessoas, que ficam hipnotizadas por aquela luzinha dançante. Aquele dia a luz não voltou na janta (na verdade, nem depois... a luz só voltou enquanto estávamos todos dormindo, e só uma pessoa levantou no meio da noite pra apagar a luz que havia brotado no meio da casa morna). E meu pai falou. Falou daquele pai que ele não conhecera, senão por uma ou duas ocasiões, em que necessidades imperativas o obrigaram a olhar pro pai, a pedir pro pai. Naquele jantar, enquanto ele jogava uma luz tão fraca quanto aquela das velas sobre um pouco do seu passado inescrutável, o vento passava forte e rápido na rua, ululando aquilo que todos que vieram ao mundo já ouviram.

domingo, 8 de maio de 2011

caminho de rato

O glaucoma e o alzheimer avançavam já havia alguns anos. De início a surpresa foi bem menos o mal em si daquela doença improvável, do que a firmeza com que memória e ânimo resistiam, a despeito do corpo caduco, dos olhos que progressivamente esbranquiçavam. Hoje, em uma contra-mão cáustica e irônica, é só um corpo débil que vem às nossas casas comemorar aniversários, páscoas, natais, anos sem fim... Diante daqueles olhos vidrados, incapazes de reconhecer a vida para além da lembrança do filhos mortos (sempre os filhos mortos: "Que saudades tenho do Paulinho", "O Fernando era (...)" e falava deles, e claro, de Deus e Jesus), tenho certeza de que o esquecimento é um mar de branco sem fim.
Como aqueles olhos.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

banal



o lugar onde mais se mente, por excelência, é a cama.

O estudante

Sonha, sonha enquanto dormes.
Tudo esquecerás com o dia.

(Dia, alegre aprendizagem
Da grande sabedoria.)

Aprende, aprende. No sonho,
Esquecerás o aprendido.

(Sonho, doce aprendizagem
Do definitivo olvido.)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

prazer e contrôle.



Sufoca um primeiro desejo, provoca os demais, e não muda de postura. É empurrando para longe o primeiro-impulso que se domina o objeto. Essa imagem diz muito, menos isso.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

sem título - sobre pathos



Impulso forte e perpétuo, vontade sem freio de sempre-nova criação.

Em branco



O objetivo em choque com o meio.
A má-vontade latente nos dois.
Não tem como sair do lugar.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

instantarte




Necessidades básicas atendidas, prazeres ao alcance do bolso, todo o dia se encontra alguma espécie de satisfação, não há como fugir. O que azeda o creme não é o tamanho diminuto de uns prazeres frente a outros; é que nenhuma satisfação proposta pela rainha moda, senhora de todas as soluções, é capaz de preencher o buraco da inexperiência, da existência tão sem fundo, ou de ocupar o vazio deixado pelas vontades que não se formulam e morrem no escuro.
Não é só o efêmero que deixamos para trás que forma um acervo que parece não ter fim. Os desejos mortos engrossam essa coleção bizarra de arte moderna.

Gravissimo



Há um grande movimento, cujo início Homem nenhum notou, do qual Homem nenhum foge.
Esse movimento é lento, inatingível, fundo. É gravíssimo. Em sua aurora talvez não se fizesse notar, ou se fosse perceptível, só revelava sua face ornada com os louros e as jasmins. Hoje sua existência é plena, seus braços enlaçam o mundo, seus olhos fitam cada Um, seu sorriso nos torna um ébrio cujo ponto de convergência não passa do umbigo.
É quando fecho os olhos no meio do mundo que vejo seu movimento lento, tão idoso, se arrastando (Homem nenhum a viu parada), varrendo e carregando tudo.
Desse movimento, cantado há tanto tempo, dizem que só os loucos, bêbados e vagabundos fugiram. Mentira: só os loucos.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Azul e Sombra



No meio do infinito que existe entre estes dois azuis, aquele homem tenta se livrar da pestilência da terra. O ar não se move, as velas não entumecem. Não. Ele não conseguia, a pestilência estava a bordo, no coração de um, nos delírios de outro, em sua travessia de sombra.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Finale: tranformação

Mata o inocente, sê grande.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Herança

A herança comum que nos deixam nossos pais, como um cordão que se estende através de milhares de anos unindo todos que respiram, é a de sonhos, angústias, lágrimas, dores e amores.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Desencanto sem número

Só os deuses se entendem, só os deuses se amam.
Aqui em baixo é tudo caos, aqui é tudo lama.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

segredo

Foi inevitável não perceber a ironia: deu de cara com um sentimento reanimado, mas que havia de ser silenciado pela distância.
E esse segredo haveria de ficar por lá.