quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Paisagem

A luz amarela que entra pela janela mal dissipa a típica escuridão de fim de tarde que domina meu quarto. Meu quarto e a sala ao lado. Essa luz provoca em mim alguma coisa que não sei bem se sou capaz de dizer - não é por outro motivo que vim escrever. Uma ansiedade, posso dizer, sabendo que com isso só encontro uma palavra que provisoriamente acalma minha busca por linguagem capaz de explicar o que sinto. Sento ao pé da cama e fico observando o fim de tarde pela janela do meu quarto - a chuva diminuiu, quase parou; o céu permanece tomado por densas nuvens de cinza plúmbeo, e em suas barrigas raios enormes correm, sem se lançarem em direção ao chão. São monstros gigantescos e sem rosto que pairam sobre a cidade. Há também algumas manchas de céu azul, mas só nos pontos mais distantes. A luz do fim de tarde, nessas circunstâncias, cobre tudo com tons úmidos e amarelados. É uma provocação, talvez: é quando consigo apreender na paisagem algo que normalmente não está lá. Minha suspeita do que seja essa coisa: um pouco de mim mesmo.