quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Terras altas

Esse vento há de levar 2010 para longe.
Evoé!

domingo, 26 de dezembro de 2010

ensinamento útil

não te engana. amor, carinho, e todos os outros engasgos.
nada ficou de fora.

ensinamento quase-útil

aprende a ver

concreto rasgado

A superfície é hoje quase que em sua totalidade humanamente concreta. Fria e completamente regida pelo homem, a Cidade ao ar livre tem pouco espaço para qualquer forma de manifestação que pareça realmente viva...
Mas um ouvido atendo consegue escutar, na noite, no subsolo da cidade, nas linhas do metrô, naquelas veias tão pouco orgânicas de concreto, enquanto o trem corre, um último impulso sincero da Cidade.

a Cidade grita desesperada, sem ao menos conseguir morrer.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

em terra de Homem, Pessoa é rei

Sono de ser, sem remedio,
Vestígio do que nao foi,
Leve magoa, breve tédio,
Não sei se para, se flui;
Não sei se existe ou se dói.

escolha de iniciante

me abrigo dos trupicões em pedregulhos pulando em um abismo tão maior.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

colateral

"toma, bebe mais",
disse olhando pra dentro,
"foi você quem fez".

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

surpresa

"é impossível ser feliz soziho". me peguei de susto achando isso tão certeiro, e em todos os sentido, cheio de precisão...

sábado, 20 de novembro de 2010

distância

a vida corre lá fora.

domingo, 14 de novembro de 2010

fermentação

a mordida do tédio apodrece o carinho e transforma tudo em nada.

sábado, 13 de novembro de 2010

silêncio / pausa (agonia)

antes tudo era caos.
hoje, ainda sem entender nada, fui tomado por uma paz que cega, que ofende.
continuo sem entender;
mas agora nem canto mais.

sábado, 6 de novembro de 2010

domingo, 24 de outubro de 2010

tempos de festa

muito menos do que reflexão e posicionamento quanto ao que o indivíduo acredita ou pensa, o que vejo (a primeira pessoa aqui é fundamental por dois grandes motivos: o primeiro deles é grande só pra mim e não vem ao caso; o segundo é o óbvio: quem vê dessa forma sou eu) é a ação coletiva-não-contestatária de uma forma institucional da política pouco questionada. o ódio por um enaltece a imagem de um outro que se constrói sobre um passado comum a tantos e que hoje pouco mais é do que um reflexo torto (pra esquerda, pra direita) daquele sobre qual, pelo santíssimo departamento de publicidade e negação, também se constrói. a santíssima igreja do Estado clama pelo voto, através do qual você, meu queridíssimo próximo, se expressa. e cada vez mais, pacientíssimo, você se torna um reflexo desforme, as vezes a esquerda as vezes a direita de um elemento comum que já nem é mais capaz de reconhecer.
em um jogo no qual um se define pela negação do outro, mas mantendo uma mesma referência (zelai por nós, Santíssimo) a mudança é quantitativa, não qualitativa. ainda prefiro o arrombamento às cifras.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Telhado dos pássaros mortos

antes, um coberto de vermes; hoje aquele secou, e este sonha em ir embora, olhando pra cima.
como já disse uma vez o enfermo francês, com o peito corroido pelas noites nos salões esfumaçados e pela saudade d'um tempo morto, é "(...) dessas horas de exceção em que se suspira por qualquer coisa diferente do que existe, e em que aquêles a quem a falta de energia ou de imaginação impede de tirar de si mesmos um princípio de renovamento, pedem ao minuto que vem, ao carteiro que bate, que lhes traga algo novo, ainda que seja o pior, uma emoção, uma dor; em que a sensibilidade, que a felicidade fêz calar como uma harpa ociosa, quer ressoar sob uma mão, ainda que brutal, ainda que lhe rebente as cordas; em que a vontade, que tão dificilmente conquistou o direito de entregar-se sem obstáculos a seus desejos, a suas penas, deseja entregar as rédeas às mãos de acontecimentos imperiosos, por cruéis que sejam."

terça-feira, 12 de outubro de 2010

cidades paralelas

o centro cresceu, floresceu e morreu. hoje, sem meias palavras só restam fachadas que escondem os escombros d'um passado que, diz minha avó, já foi dourado e com cheiro de café. hoje o coração daquela cidade fede a fertilizante e água podre.
mas o mais difícil de não reparar é como aquele miolo em ruínas continua de pé, sustentato por pessoas que moram nos arredores, nos subúrbios; é como o coração da cidade, estagnado, é mantido falsamente vivo. a cidade parece crescer sobre uma morte anunciada: por mais que se derrame entre mar e serra, por mais que aumente, sustenta em seu antigo centro a própria ruína. a cidade canta uma ode a um passado agora sem significado.

rascunho sem número

é piada do Tempo me perder em palavras (que em verdade nem chego a conhecer) que falaria pra pessoas de que me resta pouco mais que um fio delgado de podia-ter-sido.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

engano

Pulsa um amor por um mundo latente, por uma memória não vivida, por um presente potencial e sem forma. Mas pulsa.
E vejo que é Eros quem bate no meu peito.

sábado, 2 de outubro de 2010

espetáculo a meia-luz

Naquele espetáculo em que falávamos banalidades e pareciamos nulos não havia espaço para a apatia. Mas se vista pelo menos daquele canto nem mais claro nem mais escuro, veria-se que se entre nós a apatia era parte de uma negação sempre forte, nesse mundo dentro de cada um, se não soberana, ela fazia parte dessa solidão, condição básica pra que se possa existir, tão pianissima.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

o bem estar da barbárie

por que Tânatos parece, hoje, pulsar mais que Eros?

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

pontes

No meio do caos e do comércio, do tráfego; colada na linha do trem, empoeirada e encoberta, um tanto quanto esquecida (mas sempre lá), encontrei uma rua terna e cheia do charme e encanto que só o "outrora" comporta.

Encontrei na rua Constança um pouco do que fui, encontrei naquela rua constante muito do que, hoje, és.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

jogo de espelhos.

você é a minha cara.
eu sou a sua cara.
mas ele,
ele é, ponto por ponto,
um eu avesso à mim.

mas não deixa de ser tua cara.

sábado, 11 de setembro de 2010

espelho, espelho meu/as cidades e as imagens

a gente se faz um pouco assim, reflexo do mundo onde vivemos.
e foi pouco a pouco, vivendo nessa cidade enorme, cinza, fria, cruel e incrível, que eu me construí um pouco assim mesmo, entre o indiferente concreto-armado e o charme discreto de um vazio cheio de potencialidades.

acho que tem muita pedra dentro de todo bom paulistano...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

reticente sem número

eu não caibo em mim.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Silêncio

eu te estranho, você me estranha.
nosso silêncio foi assim, quieto

(não como aqueles que cantam, gritam;
o nosso morreu na entranha).

terça-feira, 31 de agosto de 2010

reinvenção

eu me fiz com medo de mudar.
eu me mudo, com medo de ficar mudo.
mas meu maior medo é mudar.

agora eu: mudo.

sábado, 28 de agosto de 2010

sem título, sem número

Caos é vida, paz eu deixo pra depois. Divido com o verme que comer meus olhos.

ironia sem número.

Estranhamento, sim. Estranhamento de saber que muito do que eu pensei saber, nem de longe eu sabia. Estranhamento de não saber qual a minha posição (bem, quanta estupidez, "a minha posição", de que importa!), mesmo sabendo por onde estou. Ah, estranhamento: me estranho estranhando tudo isso. Não quero menos, não quero mais, não quero paz.

Eu quero tanta coisa! Inclusive os opostos. Nisso não há estranhamento. Ironia sem número.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Vida, vento, vela

aquela estrela é bela
leva-me daqui...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

lá longe, aqui perto.

tinjo meus dias com as cores dos teus.
fiz do teu projeto de mundo um canto do meu.
me pego surpreso, acreditando no que há tempos não acreditava mais.

todas as distâncias bem aqui, na minha frente.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

de olhos bem...

fecho os olhos e o que vejo é o mundo.

não este que nos cerca, cheio de pessoas lindas, jovens, saudáveis e felizes (saúde é felicidade: fale com seu médico), de bebês fofos, de cãezinhos sorridentes, com aquele aroma de rosas no ar.

o sorveteiro me chama. ele cospe no meu sorvete.

abro os olhos e o jovem é moribundo, os bebês são carcaças. os cães foram atropelados (difícil saber se foram realmente atropelados: antes de morrerem eram só pele e osso, famintos). a tevê da vitrine continua ligada e o cheiro de rosas é mais discreto.

fecho os olhos.

eu nunca enxerguei?

terça-feira, 27 de julho de 2010

a propos de la tristesse / sur la douleur

aller mes vingt ans, si les autres vont vingt ans!

domingo, 25 de julho de 2010

Livro

A idéia era boa.
Uma poesia, um mês.

Mas me faltou inspiração.
Minha única conclusão foi a de que julho é o mês de um sol que não me esquenta e de uma luz tão diáfana quanto a que chega ao rio que atravessa aquela cidade mística que existe um pouco em mim e onde chovem flôres amarelas...

sábado, 24 de julho de 2010

"Foba", disse.

Eu não preciso de muito pra sonhar.
Um mundo de ilusões não é, de forma alguma, menos real que um mundo palpável.
Desde que presente.

Um toque na janela do ônibus basta.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

São Paulo hora 0

não te aflige, meu bem, o único peso sobre ti é o de uma solidão anímica e o de uma existência anêmica.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

ímpar

é que na verdade, amor é meio assim, ímpar

- não rima com nada...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Dá-me um barco

(...) mal o sol acabou de nascer, o homem e a mulher foram pintar na proa do barco, de um lado e do outro, em letras brancas, o nome que ainda faltava dar à caravela. Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

instante em flôr.

o instante em toda sua compexidade, intangibilidade. forma completa. nada me falta, e se ele sempre acaba, fica de consolo o fato de que depois virão outros não menos coloridos, não menos sonorosos, nunca menos cheios ou completos.
nunca é igual.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Brilho eterno da lembrança

Dou ao passado o significado que posso, quando posso.
Se por um lado é de lá que vem a maior parte da nossa amargura, com seus momentos tão limpos, sob uma luz quase outonal, translúcida, fosca, perdida naquela matéria impalpável do tempo, é também de lá que vem quase tudo o que sou: o presente é por (quase) todos os lados desprovido de ontologia.*

Irônico ser o passado, talvez, mais dotado de transcendência do que o presente (e o futuro, oras, me pergunta aquele que crê no depois. sei lá eu do depois! se eu soubesse dele é porque ele não viria depois, já teria passado!)

A memória e a lembrança dão o peso, mas parece que também dão a luz de boa parte do presente. E prefiro uma vida carregada do que uma vida sem luz, um presente no breu.

*fica a observação de que eu não consigo acreditar nisso, por mais que por um lado acredite, e vejo uma metafísica absurda no presente.

Cenas de um casamento

Enquanto o noivo espera, não menos nervoso, a mãe chora, a dama de honra (tão pequena) se distraí com os arranjos de flores que tomaram conta da igreja, e o público impaciente coxixa. A noiva chega, e o silêncio junto dela. Música, altar.
O padre pergunta ("(...), aceita?"). Não consigo ouvir a resposta.

Fui expulso da casa de Deus por um rapaz que percebeu que eu não havia sido convidado para o sacramento.

Chove arroz lá fora também.

Epifania enlatada sem número

Como passar para o papel o que nem em pensamento é capaz de se condensar? Como colocar dentro de uma moldura todas as cores, em todas as texturas e formas diferentes que sou capaz e incapaz de conceber?
É esse gosto estranho de ver os olhares tão expressivos e fatigados de Tamara e seu namorado, sem nem ao menos saber se são, foram, ou serão de fato namorados; não conseguir imaginar o som de suas vozes; ou qualquer outra besteira sem cabimento como essas...
Esse tesão pelo impalpável, pelo invisível, pelo inviável, mas não inodoro ou ausente. Objetividade e realidade escapam à minha jurisdição: me importo com sensível, com o vivo (por mais estático ou fantástico que seja).

De que me importa o concreto e o palpável se nesse fluxo do devir é tudo tão movediço e translúcido?
-Não enxergo tão bem quanto sinto.

Poema (in)completo

Este poema, que tem
um começo,
um meio
e um fim,
não acaba por aí:

acaba por aqui.

terça-feira, 9 de março de 2010

Simples, são só sete cabeças.

Por que então medo de encarar esse futuro presente?

Porque talvez ele vire presente passado.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Tédio

Tédio, não de hoje, nem de ontem, nem de amanhã. Tédio... alguma coisa precisa mudar, e eu nem sei o quê.

Mal aproveito as noites maravilhosas desse carnaval, seja lá quais forem.
Preciso ir, de algo novo.
Rápido!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Mozart e Shakespeare

Lembrando de Siffert, há algo que Mozart tão bem colocou em música e que Shakespeare tão bem colocou em palavras... "o coração me dança, mas não é de alegria".

Nessa valsa louca eu me perco, eu rodo, rodo, e não me acho. Não quero o passado, não estou mais apaixonado por ele. Mas tão menos quero esse futuro, essa espera.
Quero sorrir um bocado, sem me preocupar em me achar.

Eu danço, mas não de alegria...

sábado, 9 de janeiro de 2010

Além, carnal.

O vazio como mais puro reflexo do completo.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Das almas

Não há razão na busca de uma alma que compreenda a nossa.
"As almas são incomunicáveis".
Talvez por isso a vida seja uma festa de cores tão melancólica.
Talvez por isso a vida seja tão linda...

Das cores...

Por mais que eu consiga ver a beleza e as cores em tudo quanto me cerca, vejo a fina poeirinha cinzenta da tristeza sobre todas as superfícies.

E o espetáculo não é menor por causa disso...

À flor da pele

Sinto a vida em mim, latejante, exuberante, pronta pra explodir em todas as cores do mundo...

Mas não agora.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Divertimento

Falo de um tempo distante e já cinerário, quando éramos vários e viviamos o que digo aqui, um pouco para os outros e quase tudo para os meus feriados, que preencho infatigável com palavras. A laranja se abre em gomos translúcidos que ergo ao sol de uma lâmpada para observar o glóbulo sombrio das sementes por entre a linfa. De um dos gomos saem os Vigil, agora estou com eles e os outros na casa de Villa del Parque onde brincávamos de viver.