segunda-feira, 27 de junho de 2011

lição sem número nem sentido

a gente aprende a engolir nossas angústias e nossos medos soltando vogais abertas e sons guturais.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um Pessoa em toda gente.

Desenganemo-nos da esperança, porque trai, do amor, porque
cansa, da vida, porque farta, e não sacia, e até da morte, porque traz mais
do que se quer e menos do que se espera. Desenganemo-nos, ó Velada, do
nosso próprio tédio porque se envelhece de si próprio e não ousa ser toda a
angústia que é.

sábado, 18 de junho de 2011

Passa passarim!

Cadê meu amor, minha canção?
Cadê minha voz, pra dizer que tudo sumiu?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

caminhar vazio

quando meu mundo era mais mundo?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Caravaggio e o relógio

Era toda vez a mesma história: quando a luz acabava, a casa quase ruia com os ais chorosos que meus pais e minha irmã soltavam, junto de meia dúzia de xingamentos. E aquele dia não foi nem um pouco diferente. Seja como for, a luz sempre voltava durante a janta: era só sentarmos na mesa, alguém falar "me serve de batata, por favor" que a luz voltava. E quando a luz ascendia, eu ficava meio chateado. O melhor da casa aparecia quando a luz acabava, era uma casa toda silêncio sem imagem. E não há pessoa que desconheça o fascínio que o fogo provoca nas pessoas, que ficam hipnotizadas por aquela luzinha dançante. Aquele dia a luz não voltou na janta (na verdade, nem depois... a luz só voltou enquanto estávamos todos dormindo, e só uma pessoa levantou no meio da noite pra apagar a luz que havia brotado no meio da casa morna). E meu pai falou. Falou daquele pai que ele não conhecera, senão por uma ou duas ocasiões, em que necessidades imperativas o obrigaram a olhar pro pai, a pedir pro pai. Naquele jantar, enquanto ele jogava uma luz tão fraca quanto aquela das velas sobre um pouco do seu passado inescrutável, o vento passava forte e rápido na rua, ululando aquilo que todos que vieram ao mundo já ouviram.