domingo, 8 de maio de 2011

caminho de rato

O glaucoma e o alzheimer avançavam já havia alguns anos. De início a surpresa foi bem menos o mal em si daquela doença improvável, do que a firmeza com que memória e ânimo resistiam, a despeito do corpo caduco, dos olhos que progressivamente esbranquiçavam. Hoje, em uma contra-mão cáustica e irônica, é só um corpo débil que vem às nossas casas comemorar aniversários, páscoas, natais, anos sem fim... Diante daqueles olhos vidrados, incapazes de reconhecer a vida para além da lembrança do filhos mortos (sempre os filhos mortos: "Que saudades tenho do Paulinho", "O Fernando era (...)" e falava deles, e claro, de Deus e Jesus), tenho certeza de que o esquecimento é um mar de branco sem fim.
Como aqueles olhos.